A história da Vinícola Ramos Paul começa de maneira improvável. Em 1999, Nané Ramos-Paul Ruano herdou de seu avô uma parcela de uma antiga propriedade de 850 hectares em Ronda, no sul da Espanha. Inicialmente, a intenção era vender o terreno, pois Nané e sua esposa, Pilar Martínez-Mejías, não tinham experiência com viticultura. No entanto, uma série de coincidências e a ajuda crucial de Francisco María Moreno Camacho, um veterano da vinicultura espanhola com décadas de experiência em renomadas vinícolas, mudaram o rumo de suas vidas. 

Início da jornada

Paco, como era carinhosamente conhecido, visitou as terras e ficou impressionado com o que viu em relação a clima, solo e ambiente. Ofereceu seu vasto conhecimento e experiência, ajudando o casal a decidir as variedades de uvas a plantar, como projetar a adega e até como fazer os próprios vinhos. 

Sob a orientação de Paco, dos 40 hectares de terra, 25 hectares foram destinados ao cultivo de uvas. Os vinhedos são divididos entre as variedades Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. A plantação das vinhas começou em 2000, e a construção da adega se estendeu de 2003 a 2006. 

Terroir único

O verdadeiro enólogo da vinícola Ramos-Paul é o próprio campo, com clima e ambiente desempenhando papel crucial na produção dos vinhos. Localizada em um vale próximo a Grazalema, a vinícola desfruta de um ambiente único e privilegiado. A região, conhecida por suas chuvas abundantes, neve anual e uma combinação de influências atlânticas e mediterrâneas, oferece condições climáticas ideais para o cultivo de uvas de alta qualidade.

Outro aspecto significativo é a posição geográfica da vinícola, sendo a última na província de Málaga e a primeira na província de Cádiz. Isso permite que ela receba influências tanto do Atlântico quanto do Mediterrâneo, com ventos marítimos vindos de ambos os lados. Os vinhedos estão protegidos pelas Ruínas de Acinipo. Com cerca de 40 metros de altura, o grande muro preserva as vinhas dos ventos do norte e das geadas tardias.

Apesar de estar no sul da Espanha, onde as temperaturas são altas e o sol é abundante, essencial para o amadurecimento das uvas, a região está a mil metros de altitude, o que proporciona importante amplitude térmica. Nos meses mais quentes do ano, a diferença de temperatura entre o dia e a noite pode chegar aos 22 graus Celsius. Condição crucial para o desenvolvimento das uvas, contribuindo para a complexidade e qualidade dos vinhos.

Práticas Agrícolas Sustentáveis

A vinícola adota práticas agrícolas que valorizam a sustentabilidade. As vinhas são tratadas com enxofre para prevenir fungos e produtos naturais à base de algas marinhas e aminoácidos. A  argila no solo retém a umidade, eliminando a necessidade de irrigação artificial. As práticas de manejo do solo incluem o uso de cobertura vegetal para proteger contra a erosão e a perda de umidade. A colheita e a manutenção das vinhas são feitas manualmente, garantindo um cuidado meticuloso em cada etapa do processo.

Leveduras selecionadas

As leveduras utilizadas para a fermentação na vinícola Ramos-Paul são comerciais, especialmente desenvolvidas para suas vinhas. Devido à localização em uma zona de sol e calor intenso, as uvas contêm muito açúcar, resultando em vinhos com elevado teor alcoólico. Como o álcool pode ser prejudicial às leveduras, estas precisam ser preparadas para suportar altos níveis de álcool, sendo criadas especificamente para os vinhos da vinícola. 

Vinho e História

O nome da vinícola, Ramos-Paul, honra o legado da família e a história do local. Próxima às ruínas romanas de Acinipo, que significa "terra de vinhas", a região tem uma rica tradição vinícola que remonta à era romana. Este passado histórico, combinado com a inovação e dedicação da família, resulta em vinhos que são tanto uma homenagem às raízes quanto uma expressão moderna do terroir.

Os vinhos Ramos-Paul

A altitude elevada e as condições climáticas rigorosas influenciam diretamente o processo de maturação das uvas, resultando em vinhos ricos em sabor e complexidade. Os vinhos da Ramos-Paul não são filtrados, mantendo sua autenticidade. Os vinhos mais novos podem ter poucos sedimentos, enquanto os mais envelhecidos tendem a apresentar uma quantidade significativa de sedimentos devido ao longo processo de envelhecimento e à ausência de filtração. Preservando assim a autenticidade de seus vinhos.

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