17/07/2024
A Itália brilha pela qualidade e diversidade de seus vinhos. Porém, poucas denominações de origem conseguiram atingir o status obtido por Brunello di Montalcino. A magia de seus vinhos, elaborados a partir da Sangiovese, garantiu a esta região a honra de ser a primeira denominação de origem italiana a receber a classificação DOCG em 1980, a mais alta na pirâmide de qualidade.
Apesar disso, em um país de tradições milenares na vinicultura, Brunello di Montalcino é uma região que recebeu maior atenção dos amantes do vinho há poucas décadas. E isso abriu espaço para que muitos novos produtores rapidamente ganhassem uma posição de destaque, expandido as fronteiras da vinicultura da região. Um destes nomes é a Podere Le Ripi.
Rápido crescimento
O empresário Francesco Illy, parte de uma família com longa tradição na indústria de bebidas (quem não conhece os cafés Illy?) decidiu, em 1984, buscar o sol e a tranquilidade da Toscana. Seguindo o conselho de alguns amigos adquiriu 60 hectares da propriedade Podere Le Ripi, localizada a sudeste de Montalcino e, na época, dedicada basicamente à criação de ovelhas. Somente em 1999 o foco passou para a viticultura, com a plantação dos primeiros vinhedos.
Em 2005 já eram 13 hectares de vinhedos, cultivados com Sangiovese e Syrah e usados para elaborar diversos vinhos, com a consultoria de enólogos externos. Um passo importante foi dado em 2010, com a obtenção da certificação orgânica, seguida pela certificação biodinâmica em 2014. Em paralelo, a chegada do enólogo Sebastian Nasello, em 2012, inaugurou uma nova fase também na adega.
Os anos seguintes marcaram uma rápida expansão. Em 2016 se deu a construção da nova adega e a aquisição de uma propriedade a sudoeste de Montalcino. Com um total de 54 hectares, a nova fazenda contava com 13 hectares plantados com vinhedos. Após passar a controlar mais dois hectares, plantados com uvas brancas, em 2022 houve a aquisição de mais cinco hectares, próximos a Podere Le Ripi.
Agricultura e vinhedos
Esta expansão garantiu um total de 33 hectares de vinhedos, atualmente concentrados em dois blocos distintos. Em torno da propriedade original de Podere Le Ripi, nas proximidades de Castelnuovo Dell’Abate, são cerca de 18 hectares. Eles são totalmente dedicados à Sangiovese, já que as videiras de Syrah foram extraídas.
Já a sudoeste de Montalcino são aproximadamente 15 hectares, dos quais 13 hectares dedicados à Sangiovese e os demais às variedades brancas Trebbiano e Malvasia. Os vinhedos estão situados a 150 metros de altitude em um oásis natural chamado Il Galampio. Este terroir permite uvas de ótima qualidade, resultando em vinhos mais leves e com expressão mais contida de fruta.
Vinificação
A Podere Le Ripi é uma vinícola que adota práticas de baixa intervenção, respeitando os regulamentos de agricultura e vinificação determinadas pelas certificações orgânica e biodinâmica (Demeter). Em 2018 passou a fazer parte do grupo AAA (Artesãos, Artistas e Agricultores), a mais conceituada organização de produtores de baixa intervenção da Itália.
Após colheita manual, no caso dos vinhos tintos, a fermentação ocorre com uso exclusivo de leveduras indígenas, sem controle de temperatura, em grandes tanques de carvalho francês. Não há uso de aditivos, a não ser leve adição de sulfitos. Após a fermentação maloláctica, os vinhos seguem no carvalho e, antes do engarrafamento, passam por estágio em tanques de concreto. O período de maturação varia de acordo com a cuvée e safra, e os vinhos não passam por colagem ou filtração.
Estas características colocam a Podere Le Ripi como um produtor claramente dentro da corrente tradicionalista do Brunello di Montalcino. Este grupo é uma contraposição aos produtores que apostam no uso de técnicas mais intervencionistas na adega e uso de barricas no envelhecimento dos vinhos, os chamados modernistas.
Vinhos a sudoeste de Montalcino
A produção de vinhos, que atinge em torno de 90 mil garrafas ao ano, pode ser dividida em dois blocos distintos, de acordo com a localização dos vinhedos. Das parcelas a sudoeste de Montalcino são elaborados três vinhos (dois tintos e um branco). O Sogni e Follia, classificado como Rosso di Montalcino, é o vinho de entrada da vinícola, com produção de cerca de 25.000 garrafas ao ano. Ele passa por 24 a 36 meses em carvalho, dependendo da safra.
O Cielo d’Ulisse é um Brunello di Montalcino, também monovarietal de Sangiovese, que passa cerca de 36 meses em carvalho, mais um ano em concreto. É um vinho de estilo clássico e mais leve, que reflete seu terroir. Já o Canna Torta é um vinho branco de maceração, com cerca de 75% Trebbiano e 25% Malvasia. Enquanto os vinhedos próprios não atingem a maturidade correta, foram usadas uvas de cultivo orgânico compradas junto a viticultores locais. Na vinificação, as uvas são fermentadas com suas cascas por oito meses em ânforas, seguido por mais seis meses em concreto, já sem as cascas.
Vinhos a sudeste de Montalcino
Atualmente são elaborados três vinhos diferentes destes vinhedos, já que o Amore e Follia (um corte de Sangiovese e Syrah) viu sua última safra em 2019. Nesta propriedade, além da diferença entre o terroir das diversas parcelas, há grandes variações na densidade de videiras, contribuindo para vinhos com expressões próprias.
O Amore e Magia é um Brunello di Montalcino mais denso e estruturado, elaborado exatamente da mesma forma que o Cielo d’Ulisse, permitindo uma comparação entre as diferentes sub-regiões do Brunelo di Montalcino. O Lupi e Sirene Brunello di Montalcino Riserva é elaborado a partir de uma parcela com vinhas de maior densidade (11.000 plantas por hectare), e fica entre 36 e 42 meses em carvalho, dependendo da safra. É considerado o topo de linha dentre os vinhos distribuídos fora da vinícola.
Por fim, há o Bonsai, que não é classificado como Brunello di Montalcino, mas como IGT Toscana Rosso. Em função da densidade de seus vinhedos (62.500 plantas por hectares, possivelmente a maior do mundo), não atende às regras do Conselho da denominação de origem, com venda somente na vinícola. É um monovarietal de Sangiovese, que passa entre 20 e 32 meses em tonneaux de carvalho, mais um período de até 12 meses em garrafa.
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