02/09/2024

Dos onze vilarejos que fazem parte da denominação Barolo, aquele que mais se beneficiou do aquecimento global foi Verduno. Situado no norte da denominação e diretamente exposto às montanhas vizinhas, é o primeiro a receber os ventos frios do norte. Se no passado isso era uma desvantagem, hoje representa um enorme diferencial positivo.

Por conta disso, os vinhos de Verduno se mostram entre os mais frescos e elegantes da região. Sendo um vilarejo com área de vinhedos relativamente pequena, seus vinhos são avidamente disputados, especialmente aqueles de produtores de prestígio e alta padrão de qualidade. É o caso do Castello di Verduno.

História e tradição

Castello di Verduno tem uma longa história e representa um marco no desenvolvimento de vinhos de qualidade em Barolo, ganhando relevância no século XIX. Pertencente na época a Carlo Alberto di Savoia (pai do futuro rei Vittorio Emanuele) se tonou um dos expoentes da elaboração de vinhos de alta gama, sob supervisão de Paolo Francesco Staglieno, considerado pai do Barolo moderno.

Outro momento relevante ocorreu em 1909, quando Giovan Battista Burlotto adquiriu a propriedade. Burlotto ganhou destaque pela excelência de seus vinhos, com diversas premiações. Após seu falecimento, suas propriedades foram divididas, dando origem a três vinícolas diferentes: Castello di Verduno, G.B. Burlotto, Cascina Massara.

A fase atual do Castello di Verduno começou em 1982, com o casamento entre Gabriella Burlotto e Franco Bianco, ele também um produtor de vinhos, porém sediado em Barbaresco. A partir de então, o Castello de Verduno passou a contar também com áreas em alguns dos melhores Crus de Barbaresco.

Vinhedos

Atualmente, o Castello di Verduno conta com 12 hectares de vinhedos, seis dos quais em Verduno e os demais em Barbaresco. Há também pequenas parcelas arrendadas fora destas áreas, para elaboração de alguns de seus vinhos mais básicos. Boa parte dos vinhedos, que têm cultivo sustentável, tem a Nebbiolo como foco principal, sobretudo em Barbaresco. Já em Verduno, a Nebbiolo domina cerca de 60% da área de vinhedos, enquanto os demais 40% são plantados com Pelaverga. Esta variedade autóctone dá origem a vinhos mais leves e elegantes, uma verdadeira especialidade da área de Verduno.

Dentre os vinhedos próprios, as duas joias da coroa ficam em dois Crus que fazem parte do seleto grupo de vinhedos mais prestigiados do Piemonte. Em Verduno, além de parcelas em Sarmassa, há uma área em Monvigliero, origem dos melhores vinhos deste vilarejo. Já em Barbaresco, o principal destaque fica com as parcelas em Rabajá, um vinhedo de face sul e fonte de alguns dos mais intensos e complexos vinhos de Barbaresco.

Vinificação

O Castello de Verduno é um produtor que mantém, na vinificação, as tradições de Barolo. As fermentações (com exceção do Barolo Monvigliero e Barbaresco Rabajá) ocorrem em tanques de aço inoxidável, sempre com leveduras indígenas. Liderada por Mario Andrion desde 200, a equipe de cantina segue tradições, como uvas 100% desengaçadas, macerações longas e estágio em botti de carvalho austríaco. Além disso, buscam manter a adição de SO2 ao mínimo necessário e não usam filtração, sempre com a intenção de gerar vinhos equilibrados e que representem o terroir local. A produção atual fica na faixa de 80.000 garrafas.

Vinhos de uvas variadas

Embora a produção do Castello di Verduno tenha foco principal na Nebbiolo, há vinhos de diversas outras uvas com longa tradição na região. A Pelaverga conta com dois vinhos, um tranquilo e um espumante, neste caso um rosado de zero dosagem, com três anos sur lattes, elaborado pelo método tradicional e chamado S-Ciopét. Porém, o destaque desta variedade é o Basodone. Elaborado inteiramente em inox, traz alta acidez, muito frescor, taninos leves e sedosos, além de notas de pimenta branca.

Até 2021 existiam dois Barbera. O Barbera d’Alba conta com vinificação inteiramente em inox, gerando um vinho vertical e fresco, para consumo imediato. Já o Bricco del Cuculo tem origem em um vinhedo em Barbaresco. Segue os conceitos dos Barbera Superiori, com uvas de vinhas velhas e passagem de cerca de nove meses em madeira. Teve sua última safra em 2021, pois as videiras (com mais de 80 anos) foram extirpadas pela baixa produtividade. Por fim, há um Dolcetto d’Alba, também vinificado inteiramente em inox, que preza pela vivacidade e caráter frutado.

Barbaresco

São três vinhos elaborados a partir da Nebbiolo plantada em Barbaresco. O Barbaresco Classico usa uvas de três vinhedos diferentes, com destaque para Faset (que contribui para mais de 90% das uvas), complementadas por vinhas jovens em Rabajá e Rabajá Bas. Fermentação em torno de 24 dias em inox, com 18 meses em botti, dependendo da safra. É o cartão de visitas para os vinhos do Castello di Verduno em Barbaresco.

Há também o Barbaresco Rabajá Bas, com vinificação idêntica ao anterior, um vinho com muita qualidade de fruta e taninos equilibrados, com mais estrutura. Por fim, o Barbaresco Rabajá é o grande destaque nesta denominação de origem. Um vinho com maceração mais longa (chega a superar 60 dias) em botti. É um tinto de alta gama, com taninos finos, muita profundidade e textura elegante, sem renunciar ao frescor e leveza: um Barbaresco que lembra um Barolo mais requintado.

Barolo

Assim como em Barbaresco, são três cuvées. O Barolo Classico usa uvas de quatro Crus e vinificação em linha com o Barbaresco Classico, um vinho refinado e de boa estrutura. Já o Barolo Massara tem um perfil mais intenso e frutado que seus vizinhos em Verduno.

O Barolo Monvigliero, por sua vez, é uma excelente representação do melhor vinhedo de Verduno.  A vinificação segue a linha do Barbaresco Rabajá, porém com maceração geralmente dez dias mais longa. Um Barolo profundo e complexo, onde a fruta divide espaço com notas florais, de uma certa forma lembrando um Barbaresco. Por fim, a partir dos vinhedos jovens de Nebbiolo em Verduno, há a elaboração também de um Langhe Nebbiolo, um vinho leve, fresco e descompromissado.

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