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Elio Altare


17/07/2024


Barolo passou por uma verdadeira revolução durante a década de 1980, graças a um grupo de jovens vinhateiros. Eles desafiaram parte das tradições locais no que diz respeito à elaboração de vinhos, propondo um estilo mais “moderno” e alinhado com o gosto dos consumidores da época. E um dos líderes deste grupo, que passou a ser conhecido como os Barolo Boys, foi Elio Altare.

Em 1976, Elio, na época com 26 anos, decidiu, juntamente com outros produtores locais, visitar a Borgonha. Os objetivos eram expandir os horizontes e aprender novas técnicas de vinificação. Para tal, ele decidiu usar seu Fiat surrado (na época o Barolo estava longe do glamour atual). Antes de partir, porém, seu pai e mãe, que nunca haviam saído do Piemonte, decidiram "garantir" ajuda divina para seu filho aventureiro. Chamaram um padre para benzer o carro e sua mãe não largou seu rosário um minuto sequer. Mal sabiam que, neste momento, começava um novo capítulo da história da vinicultura do Barolo.


Transformações


Foi o pai de Elio, Giovanni Altare, que criou a vinícola em 1948, porém mantendo também atividades agrícolas paralelas na propriedade. O foco na vinicultura veio somente com Elio, que lançou seus primeiros vinhos em 1974. Após sua experiência na Borgonha, decidiu mudar radicalmente a propriedade da família e os processos, usando uma motosserra para cortar árvores frutíferas, abrindo espaço para novos vinhedos.

Decidido a usar barricas para o envelhecimento de seus vinhos, encontrou um problema logístico. A adega da família era ocupada por grandes botti, já com décadas de uso. Construídos sob medida, não deixavam espaço para as barricas. Elio não teve dúvidas e agiu. Em 1983, para o desespero de seu pai, pegou a motosserra, cortou os botti, levou os pedaços para fora e fez uma grande fogueira. Agora as barricas francesas ocupariam seu espaço.

Elio seguiu sua filosofia de trabalho até a aposentadoria formal (embora ainda atue como uma espécie de consultor). Sua filha mais velha, Silvia, começou a trabalhar com o pai em 2001 e assumiu o controle da vinícola em 2016. Começava um novo capítulo da Azienda Agrícola Elio Altare, embora algumas das inovações do pai tenham sido mantidas. Até hoje, há uso exclusivo de barricas, macerações mais curtas e cuidados intensos com os vinhedos, sem uso de pesticidas ou herbicidas.


Vinhedos e agricultura


No total, a Elio Altare cultiva nove hectares de vinhedos próprios, boa parte deles concentrada ao redor do vilarejo de La Morra, além de parcelas no vinhedo Cerretta, em Serralunga d’Alba. Além disso, arrenda uma pequena área em Cannubi, um dos mais prestigiados vinhedos de Barolo, assim como diversas outras parcelas, com a área variando anualmente entre 2 e 3 hectares. Os vinhedos próprios são cultivados de forma sustentável, com utilização de sprays apenas quando rigorosamente necessário.

A Nebbiolo é a variedade dominante, com cerca de 7,3 hectares, dos quais 4,5 hectares usados para a elaboração de Barolo. Há também espaço para as duas outras uvas mais populares do Piemonte: Barbera (1,8 hectare) e Dolcetto (1,3 hectare). Por fim, existe uma parcela de 0,6 hectare, com videiras de Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot.


Vinificação


O uso de barricas de carvalho francês na maturação dos vinhos sempre foi uma marca registrada de Elio Altare e isso segue até os dias atuais. Porém, hoje há um uso muito mais contido de madeira nova do que no passado, sobretudo nos Barolos. De forma geral, após colheita manual, as uvas são 100% desengaçadas e passam por macerações curtas, de três a quatro dias.

As fermentações alcoólica e maloláctica são espontâneas e feitas em tanques de aço inox, à exceção de suas três cuvées de Langhe Rosso, que são realizadas em carvalho. Estes três vinhos são envelhecidos em barricas novas, enquanto os Barolos têm alta proporção de barricas usadas (100% para o Barolo Classico) e cerca de 75% para os demais. Os vinhos recebem adição de sulfitos e são engarrafados sem colagem ou filtração.


Vinhos de entrada e Langhe Rosso


A produção anual fica entre 70 a 80 mil garrafas, dividida entre 12 vinhos diferentes. Os vinhos podem ser segmentados em quatro grupos distintos. O primeiro inclui os vinhos de entrada: Dolcetto d’Alba, Barbera d’Alba e Langhe Nebbiolo. À exceção do Dolcetto, que passa apenas por aço inox, os demais fazem estágio de cinco meses em barricas usadas de carvalho. São vinhos mais frescos e leves, elaborados para consumo mais rápido, embora com bom potencial de evolução.

Os três Langhe Rosso, por outro lado, remetem mais diretamente ao estilo de vinificação adotado por Elio Altare nos anos 1980, passando 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Enquanto o Larigi é um monovarietal de Barbera, La Villa e Giarborina são cortes de Barbera e Nebbiolo, todos com grande potencial de guarda.


Barolos e Vino Rosso


Desde que a elaboração do Barolo Brunate foi interrompida em 2011, são agora cinco vinhos desta denominação de origem produzidos todos os anos, três dos quais a partir de vinhedos específicos. O Barolo Arborina vem de vinhedos próprios em torno da sede da vinícola, sendo o mais leve e elegante deles. Já o Barolo Cannubi usa uvas de uma parcela arrendada e é o mais complexo, enquanto o Barolo Cerretta Vigna Bricco é o mais intenso e encorpado.

São dois blends de diversos vinhedos. O Barolo Classico pode ser considerado o mais simples, com alta proporção de uvas de vinhedos arrendados. Já o Barolo Unoperuno é elaborado a partir de uvas desengaçadas manualmente, o que, segundo Silvia Altare, garante a melhor qualidade de fruta entre todos os seus vinhos. Por fim, há um Vino Rosso, o L’Insieme, um corte entre as três variedades tintas do Piemonte com Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot.


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